na faixa
não olho
semáforo
e atravesso
atravesso
minha vida
nas mãos
de uma miragem
com um sorriso
a miragem
me recebe
do outro lado
do outro lado
só há saudade
domingo, 30 de outubro de 2011
terça-feira, 25 de outubro de 2011
morbidez
a fresta
da aurora
não se abriu
e tudo
o que sinto
é noite
sorrisos
não giram
em órbitas
insones
as gralhas
voltam
famintas
e infligem
suas ânsias
as feridas
servem-se
às comensais
não se esculpe
harmonia
em peito
endurecido
as paredes
cantarolam
pavores
e segredam
vertigens
na pele
só aspereza
da voz
que calou
não se fertiliza
mãos secas
de sóis
com lágrimas
e na língua
um viçoso
deserto
a gritar
da aurora
não se abriu
e tudo
o que sinto
é noite
sorrisos
não giram
em órbitas
insones
as gralhas
voltam
famintas
e infligem
suas ânsias
as feridas
servem-se
às comensais
não se esculpe
harmonia
em peito
endurecido
as paredes
cantarolam
pavores
e segredam
vertigens
na pele
só aspereza
da voz
que calou
não se fertiliza
mãos secas
de sóis
com lágrimas
e na língua
um viçoso
deserto
a gritar
sábado, 22 de outubro de 2011
nosso rascunho
estro
quando me deito
nua
em verso
os pelos se eriçam
nem a verve
de falo pulsante
é mais extasiante
quando me entrego
nua
em apelos
o verso regozija-se
a mão
seca de sóis
fertiliza-se
e uma aurora
sem dores
é concebida
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
inocência
a insônia me faz
testemunhar
todos os crimes
da noite
já não nego
quando o dia
me acusa
de cúmplice
travesseiros
e lençóis
desprezados
são prova cabal
de meu suposto
delito
condenada
à revelia
ergo mãos
e me rendo
à dúvida
testemunhar
todos os crimes
da noite
já não nego
quando o dia
me acusa
de cúmplice
travesseiros
e lençóis
desprezados
são prova cabal
de meu suposto
delito
condenada
à revelia
ergo mãos
e me rendo
à dúvida
domingo, 16 de outubro de 2011
veredicto
dedicado à luz
tua carne
procura carente
a crueldade de unhas
e lâminas?
tanta ingenuidade
merece o castigo
esconder mágoa
em dor menor?
apenas sangue
correrá livre
sofres
o medo de sofrere medra em ti
o medo da morte?
és futuro cadáver
e já tens vermes
a te devorar
não há como
abortar tua cova
o dia de tua morte
anunciou-se
em teu primeiro grito
conforma-te
e dedica o tempo
que te resta
a aperfeiçoar
teu sepulcral elogio
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
guernica
entregar-se a uma leitura dentro de noite imensa (nos olhos, no peito) é fazer-se texto e escapar da textura desmedida das alucinações, das constatações que diminuem espaço e sufocam, sufocam... e como texto, sobreviver e eternizar-se
olhei detidamente por horas a pintura "Guernica" de Pablo Picasso... angústia, pesar somam-se à admiração e embevecimento diante da obra
Picasso escreveu sobre:
"Gritos das crianças, gritos das mulheres, gritos dos pássaros, gritos das flores, gritos das árvores e das pedras, gritos dos tijolos, dos móveis, das camas, das cadeiras, dos cortinados, das panelas, dos gatos e do papel, gritos dos cheiros, que se propagam uns após outros, gritos do fumo, que pica nos ombros, gritos, que cozem na grande caldeira, e da chuva de pássaros que inundam o mar"
realmente, tudo grita na obra, até a criança morta, a flor deslocada, a espada deposta de sua força; e comovida grita minha pele
se pintura é vista ao contrário, tudo permanece gritando e as figuras continuam angustiantes; mas, surge, em meio à guerra emotiva, a figura de um anjo, de cabeça erguida e olhos silenciosos... e surge minha redenção:
hirta flor
vela espada
mão de mãe
é asa de anjo
pássaro berra
em esquecimento
peso flutua
no peito contrito
encolho braços
afronto sentidos
os gritos
os gritos
os gritos
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
desencontro
estremeci
diante da vista
que esperneava
afora da fresta
que me espargia
os caminhos
reclamavam-se
sob a pouca luz
que já não definia
horizonte
nenhum deles
queria me levarpois sabiam
do peso
que lhes cavaria
buracos
é sempre assim
quando acordo
: vejo meu rumo
: vejo meu rumo
fugindo de mim
ressurreição
a carruagem fúnebre
leva teus dias
sem rumo?
retoma as rédeas
: marca o enterro
escolhe teu caixão
a cova
deixe-a precavida
não permita
que as gralhas
que te consomem
anunciem o fim
de tua triste vida
leva teus dias
sem rumo?
retoma as rédeas
: marca o enterro
escolhe teu caixão
a cova
deixe-a precavida
não permita
que as gralhas
que te consomem
anunciem o fim
de tua triste vida
terça-feira, 11 de outubro de 2011
expressão de hoddis
um quarto
uma cama
um cadáver
escaravelhos
banqueteiam-se
com meus restos
braços de noite
atravessam
as paredes
trazem gralhas
ansiosas
das feridas
das feridas
que minhas unhas
ressuscitaram
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
senda
ínfimo espaço
me aprisiona
mas horizonte
não alcanço
antes do verso
um grão estático
me aprisiona
mas horizonte
não alcanço
para quê
ter braços
e pernas
sem o bailado
do tempo?
antes do verso
um grão estático
em chão alheio
esparramada
em lírica
sou torrente
a passar
sem regresso
tudo invado
dessas ânsias
que não sinto
medo
abro
frestas
nas janelas
que se fecham
para mim mas se olho
é visto
a minha espreita
eu tanjo
ao redor
de meus segredos
um labirinto
forjei
há muito
que não sei
em que senda
me perdi
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
vácuo
há dias
não durmo
não choro
não temo
amortecida
nos nervos
na carne
nas vísceras
osso
já não fornica
com cartilagem
não há língua
na meta
da linguagem
só noite
escondida
nas abas
do dia
e o sol
é farol
a desviar
a vista
do caminho
terça-feira, 4 de outubro de 2011
afonia
sem mira
atirei lança
contra minha língua
o verbo partiu
o silêncio morreu
de saudade
as mãos
amortalharam-se
em resignado ato
de punição
atirei lança
contra minha língua
o verbo partiu
o silêncio morreu
de saudade
as mãos
amortalharam-se
em resignado ato
de punição
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
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