segunda-feira, 17 de setembro de 2012

desaba(fa)ndo (3)

tão caudaloso
torna-se
o amor
dessangrado
do peito

desaba(fa)ndo (2)

lembra-te de mim
: sou a falsa serpente
  que esmagaste a cabeça
  ao beijar-te o calcanhar

desaba(fa)ndo (1)

estou doente
não me curo da ferida que abriste com teu desprezo
não me curo da amargura que causaste ao desconsiderar o que sinto

quando me tornei ameaça, afastaste-me sem uma gota de piedade
e me pôs a culpa
teu egoísmo matou-me em teu peito


quarta-feira, 11 de abril de 2012

atrativa

disfarça-se
a voz
em fissuras
distendidas
entre versos


lanho de flor
carnívora
onde o dia
se ostenta
em oferenda


e se eficaz
deglute
digere
e defeca

: pólen

segunda-feira, 9 de abril de 2012

indigência

clandestinamente
opera-se em mim
a retirada de sonhos

assombros
carniceiros
rapinam
os olhos

o fígado já
não atrai
abutre

e a pustulenta língua
nem em esmola
sugere cura

sábado, 7 de abril de 2012

erupções

o corpo é feito de fissuras

: não convém
  regresso
  de súbito
  a peito (de)
  que se partiu

  se a carne
  obsecra
  a partida
  a força
  gravitacional
  da mágoa
  expurga
  toda invasão
  pelas brechas
  que não se fecham
  nunca

  não convém
  segurar
  vômito
  lírico

  se a voz
  regurgita
  poesia
  a força
  levitacional
  do dia
  expurga
  toda a retenção
  pelas brechas
  que não se fecham
  nunca...

e as entranhas exibem-se
la(r)vas

falecer

vociferar em versos
como se tabu fosse
falar de amor
quando o amor suicida-se...

o que resta a um peito
amortalhado?

sábado, 24 de março de 2012

controle

pintei as unhas
na intenção
de que o cheiro
do esmalte
sufocasse seus
instintos

famintos
pelo sangue
que a carne
finge ser
carmim

sexta-feira, 23 de março de 2012

panorâmica

o dia punge temores
diante da opulência
da poesia

olhar de medusa
impresso nas divisas
da voz e do silêncio

ter horizonte enquadrado
é dizer
covas vazias

como toda fotografia
que vaza
pela borda da moldura

que no espaço do verso
toda imagística
seja máquina sem tempo


*

quinta-feira, 22 de março de 2012

blackout

nuvem intensa
cobre de sombra
a dona das mãos

: o dia volta
  a sentir minha lâmina

Amor

cobra de veneno
silente
não desperdiça uma gota

: todo ele
  rega a própria carne!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

nosso rascunho




ao conhecer
teu silêncio,
desenharei teus olhos
nas palmas das mãos.

pelos dias
não tatearei
para não te
cegar

e fecharei meus olhos
das angústias
para não perder
teu horizonte.

se almas dadas
traçam o mesmo
rumo,
embora as superfícies
passeiem
diferentes caminhos,

ali adiante
há de nos alcançar
nosso infinito!