domingo, 20 de abril de 2014

dossiê zero


suas fantasias
se rasgam todas
menos a favorita

acqua
nome camuflagem
para instinto beligerante

- a exemplo
ela saliva pelos olhos
enquanto baratas pisoteia -

dona das mãos
ágeis
presa na própria teia

poema
: eis onde esconde
sua infâmia

sábado, 22 de março de 2014

rituada



tem fóssil
de bruxa
gritando
nas unhas

no dente
malévolo
a carne
de maçã

tem calos
de mil léguas
perpetrados
confidentes

das quantas
cabeças
cortadas
por culpa
das noites
sem lua

quando
poções
vinham
explodir
em minha
caldeira


quarta-feira, 5 de março de 2014

o contradito da maçã


um dia
ela se mete 
num vestido
ensolarado
bainha puída
liberta no vento
a cara sem tinta
o cabelo largado
nos ombros 
dispara
um passeio 
descalço
lépido
puro
 
noutro dia
ela me chega
de burca
as meninas
dos olhos
quase sumidas
nesse tipo de noite 
que mulher
nenhuma quer
as mãos crispadas
de censura
trazendo
por baixo
dos panos 
uma liberdade
nua
e sem pelos 



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

poema mal acordado


o poema
acorda cedo
vai ao banheiro
alivia-se
resmunga
para a torneira
escorrendo desperdício
enxágua as mãos
passa no rosto
ajeita o cabelo
resmunga
para o espelho
um dia é sempre
outro e passa
resmunga
para as olheiras
vigílias de nada
resmunga
para a janela
o sol que não tem
mas a vida arde
e a vida se quer
invejada
e o poema boceja
para a vida
descompromissado
enfia-se na descoberta
e se finge sonhado


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

réquiem


quem lê melhor
que escreve
vê o amor à letra
se estrebuchando 
no poema

mãos bandidas
mãos banidas
denigrem versos
usurpam verves
em contrassenso

mãos bandidas
mãos banidas
ressuscitam poetas
em poemas
de ventríloquo

domingo, 9 de fevereiro de 2014

mandrágora


deixa o cão
preto
em tuas veias
arrancar o grito
do poema

só assim
ele não te mata

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

estratosfera



bem admiro as tertúlias

são vozes eriçadas
que volitam soberbas
sempre que as acariciam
as calandras

cada inserto que pousa
provoca um bizantino

é tanto absentismo
que colossais psicodramas
refestelam-se ao vento
só para tolerar o livre-arbítrio

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014