entregar-se a uma leitura dentro de noite imensa (nos olhos, no peito) é fazer-se texto e escapar da textura desmedida das alucinações, das constatações que diminuem espaço e sufocam, sufocam... e como texto, sobreviver e eternizar-se
olhei detidamente por horas a pintura "Guernica" de Pablo Picasso... angústia, pesar somam-se à admiração e embevecimento diante da obra
Picasso escreveu sobre:
"Gritos das crianças, gritos das mulheres, gritos dos pássaros, gritos das flores, gritos das árvores e das pedras, gritos dos tijolos, dos móveis, das camas, das cadeiras, dos cortinados, das panelas, dos gatos e do papel, gritos dos cheiros, que se propagam uns após outros, gritos do fumo, que pica nos ombros, gritos, que cozem na grande caldeira, e da chuva de pássaros que inundam o mar"
realmente, tudo grita na obra, até a criança morta, a flor deslocada, a espada deposta de sua força; e comovida grita minha pele
se pintura é vista ao contrário, tudo permanece gritando e as figuras continuam angustiantes; mas, surge, em meio à guerra emotiva, a figura de um anjo, de cabeça erguida e olhos silenciosos... e surge minha redenção:
hirta flor
vela espada
mão de mãe
é asa de anjo
pássaro berra
em esquecimento
peso flutua
no peito contrito
encolho braços
afronto sentidos
os gritos
os gritos
os gritos
Achei tua escrita em prosa bem poética, ela me impressionou também - o anjo de cabeça erguida e olhos silenciosos me lembrou o anjo terrível de Rilke. O poema tem essas imagens terrivelmente boas tb "Mão de mãe/é asa de anjo// pássaro berra...". As duas estrofes antes dos gritos silenciosos e pesados, o prenunciam, apesar de já estarem presentes nas imagens anteriores. Eu não li o poema como uma leitura do quadro.
ResponderExcluirBeijos
Raul
And always rememeber:
ResponderExcluir"This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the wrold ends
Not with a bang but a whimper"
T.s. Eliot
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