sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ponto negro para páginas brancas de claridade duvidosa

os versos

vejo-os carregar o peso
de tantas amarguras
e não se curvam

firmes
transportam a inquietação
para um plano
não projetado

como acontece ao lixo
que a mão doméstica se livra
sem querer saber a que fim
será destinado

os versos são caixões
(imagem a mim tão certa!)

vejo-os carregar os corpos
de tantos eus
que aniquilam suas faces
por suportarem corrosivos disfarces
a que submetem a própria identidade

os versos são heróis
não condecorados pelos atos de bravura
para os quais sequer foram treinados

a um mínimo sinal de batalha
lá são eles convocados
enviados (ao inimigo?)
e postos à linha de frente
das intenções de um sujeito
que se diz sensível!

os versos
são devorantes dos pecados
do poeta
             (o compurgado)



* tomei posse do título do texto de Jorge Pimenta

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2 comentários:

  1. querida acqua,
    sejam os versos lanças, punhais, ácido ou tábuas de caixão. conquanto sirvam para exorcizar toda a massa amorfa, cinzenta e sublunar [seguramente subliminar, também] que se agarra, com seu olhar vítreo, à pele da vida.
    beijinho e um natal luminoso para ti, querida amiga de voz tão certeira!

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  2. Não se curvam os teus versos, mas curvo-me eu perante o teu poema.
    Achei-o muito bom, parabéns.
    Obrigado pelo teu convite.
    Querida amiga, tem um bom Ano Novo.
    Beijos.

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in agradecimento

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